quinta-feira, 13 de maio de 2010

Bartleby

"Pela primeira vez em minha vida, fui tomado por um sentimento de opressiva e doída melancolia. Antes, eu jamais havia sentido qualquer coisa além de uma tristeza meio desagradável. O laço comum da humanidade fez com que eu fosse atingido por um irresistível desalento. Uma melancolia fraternal! Pois tanto eu quanto Bartleby éramos filhos de Adão. Lembrei-me das sedas cintilantes e dos rostos luminosos que eu havia visto naquele dia, em roupas de gala, deslizando como cisnes pelo Mississipi da Broadway; comparei-os com o pálido escriturário e pensei comigo mesmo: ah, a felicidade corteja a luz, então acreditamos que o mundo é alegre; o sofrimento esconde-se a distância, então supomos que não haja sofrimento. Esses tristes pensamentos - quimeras, sem dúvida, de uma mente doente e tola - levaram a outras reflexões especiais, essas a respeito das excentricidades de Bartleby. Pairavam sobre mim pressentimentos de estranhas descobertas. A silhueta pálida do escriturário surgia estendida, entre estranhos que não se importavam com ele, envolvida em um sudário gelado."

Trecho de Bartleby, o escriturário de Hermann Melville

Nenhum comentário:

Postar um comentário