sexta-feira, 30 de abril de 2010

Canção à vida

"Norma" de Bellini - Maria Callas

quinta-feira, 29 de abril de 2010

A mãe

"Levanta, olha Dora com olhos agradecidos:

- Você é a mãezinha da gente, agora... - Mas fica encabulado do que diz, pensa que Dora não compreenderá mesmo porque ela está rindo com seu rosto sério de quase mulherzinha. Mas Professoar compreende, e Gato, na frente de Dora, falando numa voz feliz, mas sem desejo, chamando-a de mãe, e ela sorrindo com seu ar maternal de quase mulherzinha, fica gravado na cabeça de Professor como um quadro.

Gato joga o paletó nas costas e sai com seu passo gingado. Sente que há qualquer coisa de novo no trapiche: eles encontraram mãe, carinho e cuidados de mãe. Dalva o estranha nesta noite?

- Que foi que teve? Que foi?

Mas ele guarda seu segredo. É uma coisa tão grande demais encontrar na terra uma mãe que já morreu. Dalva não entenderia."

Trecho de 'Capitães de Areia' de Jorge Amado

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Como viver a vida

"O plano não faz a vida, mas é a vida que, vivendo, faz o plano. Não se esforce em regular sua ação pelo pensamento; melhor, deixe que aquela forme, informe, deforme e transforme seu plano. Vá saindo de você, revelando-se para você mesmo; sua personalidade estará totalmente formada no final da vida e não no começo dela; somente a morte completa e coroa a vida. O homem de hoje não é o de ontem, nem o de amanhã. Assim como você muda, deixe que mude seu ideal. Sua vida é, diante de sua consciência, a revelação contínua, no tempo, da sua eternidade, o desenvolvimento de seu símbolo; você se descobrirá na medida em que atua. Avance, pois, nas profundezas de seu espírito, e descobrirá a cada dia novos horizontes, terras virgens, rios de imaculada pureza, céus nunca vistos, novas estrelas e novas constelações. Quando a vida é profunda, é um poema de contínuo e ondulante ritmo. Não encadeie sua eterna condição, que se desenvolve no tempo, a fugidios reflexos dele. Viva cada dia nas ondas do tempo, mas assentado sobre sua roca viva, dentro do mar da eternidade; dia a dia na eternidade: é assim que você deve viver."

Miguel de Unamuno, Adentro!

terça-feira, 27 de abril de 2010


Bazille - Still Life with Fish 1866

segunda-feira, 26 de abril de 2010

"O gênio, significa em primeiro lugar, transcendente capacidade de sofrer"

T. Carlyle

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Offenbach

"Orpheus in Hades" Jacques Offenbach

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Procurar a si mesmo

"E nesse ponto abrasou-me de repente como aguda chama a revelação definitiva: todo homem tinha uma 'missão', mas ninguém podia escolher a sua, delimitá-la ou administrá-la a seu prazer. Era errôneo querer novos deuses, era completamente errôneo querer dar algo ao mundo. Para o homem consciente só havia um dever: procurar a si mesmo, afirmar-se em si mesmo e seguir sempre adiante o seu próprio caminho, sem se preocupar com o fim a que possa conduzi-lo. Tal descoberta comoveu-me profundamente e foi para mim como o fruto daquela vivência. Muitas vezes havia brincado com imagens do futuro e havia entressonhado os destinos que me estavam reservados, como poeta ou talvez como profeta, como pintor, ou de que modo fosse. E tudo isso era um equívoco. Eu não existia para fazer versos, para rezar ou para pintar. Nem eu nem nenhum homem existíamos para isso. Tudo era secundário. O verdadeiro ofício de cada um era apenas chegar a si mesmo. Depois, podia acabar poeta ou louco, profeta ou criminoso. Isso já não era coisa sua, e além de tudo, em última instância, carecia de todo alcance. Sua missão era encontrar seu próprio destino, e não qualquer um, e vivê-lo inteiramente até o fim. Tudo o mais era ficar a meio caminho, era retroceder para refugiar-se no ideal da coletividade, era adaptação e medo da própria individualidade interior"

Trecho de "Demian" Hermann Hesse

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Teoria da Sincronicidade

Tudo está ligado? É impressão? Segundo C. G. Jung, autor da Teoria da Sincronicidade, o princípio de conexões acausais é que rege as coincidências significativas. Elas acontecem quando um conteúdo inesperado - direta ou indiretamente ligado a um acontecimento objetivo - coincide com um determinado estado psíquico. A chave para compreender a sincronicidade é conectar os eventos externos com os internos e isso aumentará nossa capacidade de tomar boas decisões.

Nós não temos o controle nem precisamos ter, essa é a lição da sincronicidade, que afirma que há uma ordem subjacente aos fatos e que o horizonte se amplia à medida que aceitamos a existência do inesperado e do nonsense, com sua dose de surpresa e risco

terça-feira, 20 de abril de 2010

George Marks - The Rhododendron Walk

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Cópia

"Todos nós nascemos originais e morremos cópias"

Carl G. Jung

sábado, 17 de abril de 2010

Haicai

Noite na cabana -
Um grilo na prateleira
procura por algo.

Issa

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Overture

Beethoven - Overture "The Ruins of Athens" op. 113

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Numa cela ou num deserto está o infinito

"Reconhecer a realidade como um forma de ilusão, e a ilusão são como um forma da realidade, é igualmente necessário e igualmente inútil. A vida contemplativa, para sequer existir, tem que considerar os acidentes objetivos como premissas dispersas de uma conclusão inatingível; mas tem ao mesmo tempo que considerar as contigências do sonho como em certo modo dignas daquela atenção a elas, pela qual nos tornamos contemplativos.
Qualquer coisa, conforme se considera, é um assombro ou um estorvo, um tudo ou nada, um caminho ou uma preocupação. Considerá-la cada vez de um modo diferente é renová-la, multiplicá-la por si mesma. É por isso que o espírito contemplativo que nunca sai da sua aldeia tem contudo à sua ordem o universo inteiro. Numa cela ou num deserto está o infinito. Numa pedra dorme-se cosmicamente."

Fernando Pessoa em "O Livro do Desassossego" p. 118

quarta-feira, 14 de abril de 2010

O tempo que pertence a nós


O que é duração para Bergson? Duração é liberdade temporal. Tempo qualitativo. Sabe-se que o tempo denominado objetivo é medido por intermédio dos relógios e outros mecanismos que apenas estão preocupados com o passar do tempo em sua forma sucessiva, mensurável. A duração para Bergson fundamenta-se, justamente, em outros elementos ligados à temporalidade. Qualidade do tempo. Subjetividade. Eis os conceitos essenciais que sustentam a duração. Como mensurar aqueles momentos que não "têm tempo"? Ou seja, momentos felizes que parecem voar? Ou momentos tensos que parecem dilatar cada instante? Como medir tal tempo se ele estaria ligado a uma sensibilidade única, singular e intransferível? Isso é duração. O tempo que jamais pode ser medido porque obedece a ritmos pessoais. Sabidamente, mais do que nunca, os complexos tecidos invisíveis que sustentam o poder e sua perversidade agudamente refinadíssima, nos dias atuais, centram-se em comprar o nosso tempo, buscando, dessa forma, esvaziar sonhos, projetos individuais e coletivos, vidas, subjetividades. Bergson resgata, em parte, um pouco de nossa potencialidade com indicativos de que ainda é possível, a duras penas, resgatar um tempo que pertence exclusivamente a nós e, como tal, incompartilhável.

Trechos do livro "Memória e Vida" de Henri Bergson

terça-feira, 13 de abril de 2010


Israels, Josef - Awaiting The Fishermans Return

segunda-feira, 12 de abril de 2010

"O homem não é tão ferido pelo que acontece mais sim
por sua opinião sobre o que acontece" (Montaigne)

E ainda Nietzsche:

"Não há fatos, só interpretação"

sábado, 10 de abril de 2010

Bashô

The silence
The voices of the cicadas
Penetrates the rocks

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Metamorfose

"Quando certa manhã Gregor Samsa despertou, depois de um noite mal dormida, achou-se em sua cama transformado em um monstruoso inseto. Estava deitado sobre a dura carapaça de suas costas, e ao levantar
um pouco a cabeça viu a figura convexa de seu ventre escuro, sulcado por pronunciadas ondulações, em
cuja proeminência a colcha mal podia aguentar, pois estava visivelmente a ponto de escorregar até o solo.
Inúmeras patas, lamentavelmente esquálidas em comparação com a grossura comum de suas pernas,
ofereciam a seus olhos o espetáculo de uma agitação sem consistência."


Início do livro "A metamorfose" de Franz Kafka

quinta-feira, 8 de abril de 2010

A guerra é o pai de todas as coisas


O mundo, dizia Heráclito, é um fluxo perpétuo onde nada permanece idêntico a si mesmo, mas tudo se transforma no seu contrário. A luta é a harmonia dos contrários, responsável pela ordem racional do universo. Nossa experiência sensorial percebe o mundo como se tudo fosse estável e permanente, mas o pensamento sabe que nada permanece, tudo se torna o contrário de si mesmo. O lógos é a mundança de todas as coisas, os conflitos entre elas, e a contradição. Por isso Heráclito dizia: " A guerra (ou a luta) é o pai de todas as coisas". O dia se opõe à noite, o quente ao frio, o úmido ao seco, o bom ao mau, o novo ao velho.

A ordem do mundo são essas oposições e a mudança contínua de um no outro.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

"ser como as coisas que não tem boca!
comunicando-me apenas por infusão, por
aderências, por incrustações...

Ser bicho, criança, folhas secas!
Bom é ser como o junco no chão
seco e oco"

Manoel de Barros

terça-feira, 6 de abril de 2010


Achenbach - Die alte akademie in Duesseldorf 1831

segunda-feira, 5 de abril de 2010

''Toda a dor deseja ser contemplada,
senão não será sentida''

Émile-Auguste Chartier