quinta-feira, 15 de abril de 2010

Numa cela ou num deserto está o infinito

"Reconhecer a realidade como um forma de ilusão, e a ilusão são como um forma da realidade, é igualmente necessário e igualmente inútil. A vida contemplativa, para sequer existir, tem que considerar os acidentes objetivos como premissas dispersas de uma conclusão inatingível; mas tem ao mesmo tempo que considerar as contigências do sonho como em certo modo dignas daquela atenção a elas, pela qual nos tornamos contemplativos.
Qualquer coisa, conforme se considera, é um assombro ou um estorvo, um tudo ou nada, um caminho ou uma preocupação. Considerá-la cada vez de um modo diferente é renová-la, multiplicá-la por si mesma. É por isso que o espírito contemplativo que nunca sai da sua aldeia tem contudo à sua ordem o universo inteiro. Numa cela ou num deserto está o infinito. Numa pedra dorme-se cosmicamente."

Fernando Pessoa em "O Livro do Desassossego" p. 118

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